O PLANETA DESAPARECIDO – Conto Infantil
Era uma vez um homem de cabelos todos brancos aos caracóis, e tão compridos, que quase lhe chegavam aos pés. Era muito sério e já muito velho. Ele vivia no Vazio. Lá, não existia coisa alguma. Por isso, se chamava assim. E o homem dos cabelos brancos gostava muito de habitar no Vazio. Pois, só num lugar tão solitário como aquele, ele era capaz de pensar calmamente… E acerca de quê? Acerca da sua Galáxia, claro está! Tu ainda não sabes, mas ele era o dono de uma Galáxia que fazia parte de um Universo imenso. A sua Galáxia não era vazia. Não, não! Antes pelo contrário… estava repleta de estrelas, grandes e pequenas, muito brilhantes e todas feitas de luz e energia. E também de muitos planetas, grandes e pequenos, sem luz, sem brilho e com muito pouca energia.
O homem dos cabelos brancos tinha muitos servos. E eles limpavam todos os dias a Galáxia. Era esse o seu trabalho. Varriam os lixos e limpavam o pó do ar; lavavam o exterior dos planetas, e tudo ficava com um ar fresco e brilhante.
Um certo dia, no fim das limpezas, os servos deram pela falta de um planeta. Pois eles contavam sempre cuidadosamente todos os planetas que tinham lavado, para terem a certeza de que não se tinham esquecido de nenhum.
“Mas que estranho! Como é possível?!… Um planeta não pode desaparecer assim! Onde teria ido parar? Tanto quanto se sabe não há ladrões no Universo…”, pensavam eles, intrigados.
Foram logo comunicar ao homem dos cabelos brancos o desaparecimento, tão misterioso, daquele planeta.
– Mas que me dizem?!! – gritou o homem, chocado. – Desapareceu um planeta da minha Galáxia? Mas qual?…
– Isso não é fácil de responder – esclareceu o chefe do grupo. – Como o senhor sabe, a sua Galáxia possui um número elevado de planetas diferentes, e ainda não nos foi possível verificar de qual deles se trata.
– Mas isso é impossível!! Então vocês não sabem que, se um planeta desaparece, fica um lugar vazio a dividir a Galáxia?! E isso não pode ser, pois significaria que a minha Galáxia passaria a ser duas; e como cada Galáxia tem de ter um dono diferente, eu iria perder uma delas.
– Nesse caso, é urgente que encontremos rapidamente um outro planeta que ocupe o lugar vazio! – propôs um dos servos.
– Mas como, e onde, vamos nós agora encontrar um planeta? Todos os planetas que eu possuo ocupam já o seu devido lugar! – exclamou o homem dos cabelos brancos, muito desiludido. E depois de ter ordenado aos servos que procurassem imediatamente o lugar vazio que o desaparecimento do planeta tinha provocado, foi sentar-se por cima de uma estrelinha que estava ali perto.
Com a cabeça descaída, mão esquerda apoiada no queixo, e enrolando lentamente um grande caracol dos seus cabelos brancos no dedo indicador da mão direita, o dono da Galáxia tinha um ar muitíssimo triste e preocupado. De tal forma que um cometa, passando por perto, e vendo o seu abatimento, até resolveu fazer uma paragem brusca.
– Tens algum problema? – perguntou-lhe curioso.
O homem dos cabelos brancos estava tão concentrado nas suas preocupações que nem deu por nada; e continuou enrolando o seu caracol, pensativo.
“O problema deve ser mesmo grave!”, pensou o cometa; e acercando-se do dono da Galáxia, gritou um “Uh!” que ecoou no seu ouvido esquerdo.
O homem dos cabelos brancos, com o susto, despertou das suas preocupações, e perguntou-lhe:
– Por que razão é que me gritas aos ouvidos?! Estás tolo?
– Eu não! – respondeu-lhe o cometa. – Mas tu, porque estás tão pensativo?
– Ah! Tu sabes lá a desgraça que me aconteceu… imagina que desapareceu um dos meus planetas! E agora, como hei de obter outro que preencha o lugar que ficou vazio?
– Mas porque não compras um?
– Comprar?! Isso é que era bom! Mas como posso eu comprar um planeta novo, se hoje já não há quem os fabrique?
– Tu não precisas de comprar um novo! Basta que compres um em segunda mão.
– Um planeta já usado? Mas onde há planetas usados à venda? Nunca ouvi falar de tal!…
– Mas há. Podes ter a certeza! Ainda há pouco tempo, passava eu pelo outro lado do Universo, quando avistei, ao longe, uma loja muito grande cheia de artigos usados e, se não me engano, estava lá no meio deles um pequeno planeta… Não me pareceu muito bonito, nem que estivesse bem conservado… Mas para um remedeio…
– Ah! Isso é maravilhoso!! – exclamou o homem dos cabelos brancos, suspirando de alívio. – Importavas-te de me levar a esse sítio do Universo?
– Claro que não! – respondeu prontamente o cometa, que ficava feliz sempre que podia ser útil a alguém. – Sobe para cima de mim, e agarra-te bem, para que não caias durante a viagem.
Partiram a grande velocidade. E, em menos de nada, já tinham chegado ao seu destino.
– Olha! Está ali, mesmo naquele canto – disse o cometa ao dono da Galáxia, apontando para um pequeno planeta.
– Mas é tão velho! E está tão sujo! Este planeta vai estragar a imagem brilhante e o ar limpo da minha Galáxia… – comentou o homem dos cabelos brancos, triste e desiludido.
– Mas olha que sempre é melhor do que nada! – lembrou-lhe o cometa. – Pior será, se tiveres de ver a tua Galáxia dividida em duas…
– Tens razão! – concordou o homem dos cabelos brancos, já decidido a comprá-lo e a transportá-lo consigo, de imediato: atou-o, com fortes correntes de ferro, ao cometa e, subindo ele para cima deste, deu-lhe ordens que partisse. Em alguns instantes apenas, chegaram os três juntos à Galáxia que pertencia ao homem dos cabelos brancos aos caracóis.
Depois de se ter retirado durante algum tempo para o Vazio, onde habitava, e de ter pensado calmamente, o homem dos cabelos brancos chegou à seguinte resolução:
“Este planeta usado tem de ser bem lavado e colocado no seu lugar!”
E mandando chamar Mercúrio, o mensageiro do Universo, pediu-lhe que propagasse por todo o lado a seguinte mensagem:
“O homem dos cabelos brancos aos caracóis pede ajuda a todos os servos do Universo que queiram fazer parte de uma equipa de salvamento, com a missão de limpar um planeta – pertencente agora à sua Galáxia – que se encontra terrivelmente sujo e poluído.”
Formou-se rapidamente uma equipa para salvar o velho planeta. Passado muito tempo, e depois de um duro trabalho, o planeta estava como novo e totalmente limpo.
O dono da Galáxia ordenou então que o colocassem no lugar do planeta desaparecido.
Agora, só faltava batizá-lo, para que ele também tivesse um nome.
Rodeado de todos os que o tinham ajudado a realizar aquele milagre de transformação do planeta, o homem dos cabelos brancos aos caracóis aproximou-se dele e, atirando-lhe com a mão direita muitos raios brilhantes de luz, disse:
– Eu te batizo com o nome de Terra…
E hoje?… Será que o planeta Terra ainda está limpinho?
De que forma é que tu contribuis para ajudar a mantê-lo limpo?
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