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Minicontos para crianças
A … a
Antes era diferente. Vinha de um mundo não existente.
B … b
Bola de sabão, do tamanho da minha mão, flutua no ar. Baila, vaidosa, como uma mariposa.
Uma rosa observa-a, invejosa: “Se eu não tivesse raízes, seríamos ambas felizes, a dançar, lá no ar….”
Desprendem-se as raízes da terra, pela força que o sonho encerra.
E a rosa voa, agora, orgulhosa, como uma mariposa.
C … c
Casa assombrada, que ninguém queria comprar, fui certo dia habitar. Era um casarão, sem sótão nem alçapão! Imagina a minha desilusão… Mas tinha fantasmas, dizia a população. E isso era tão certo como se poder fazer praia no verão.
Procurei-os por todos os cantos e cantinhos, mas só encontrei ratinhos, roedores, que corriam pelos corredores…
Seriam eles os responsáveis pelos ruídos noturnos?
D … d
Dragão anão desafia o vulcão da região a medirem forças: “Quem de nós dois for capaz de fazer chegar mais alto o fogo que expele pela boca, é o mais forte”, propõe-lhe.
O vulcão aceita a proposta, mas deixa um alerta: “Lancemos, pois, o fogo para o ar, mas, para que um de nós dois não morra queimado, será melhor que tu voes primeiro para outro lado…”
O dragão anão também era dessa opinião, porque, para ganhar a competição, só precisava de voar mais alto do que as chamas do vulcão…
E … e
Escola de magia, aberta 24 horas por dia, aceita alunos de todas as idades e nacionalidades.
Documentação necessária para a inscrição: Certificado de Imaginação.
F … f
Feitiçaria anda no ar… Quem a vai parar?
Será a fada-madrinha, com a sua varinha, ou uma bruxa velhinha?
Difícil de adivinhar. O certo é que foi o Luís, um bruxinho aprendiz, quem a fez circular, por brincadeira, já nem ele se lembra de que maneira.
No entretanto, é um espanto: as galinhas põem ovos de chocolate, do tamanho de um abacate; os professores jogam à bola com os alunos, na escola; e até na televisão já só passam filmes de animação…
G … g
Gavião, vila do País da Imaginação, possuía uma única rua, iluminada por um lampião que ia da Terra até à Lua.
Certo dia, porém, anunciaram que tinham de o retirar, para a rua alargar. E logo uma enorme multidão se aglomera em torno do lampião, no intuito de o trepar e à Lua chegar, sem precisar de foguetão…
…E foi assim que se instalou uma IMENSA confusão na vila de Gavião.
H … h
Hiena, sorridente, sorrirá de contente? Quem saberá a razão desse sorriso singular que a todos faz pasmar?
Pergunto a um leão, seu amigo do coração.
“Isso eu não sei, não!”, responde-me o felino, acrescentando um testemunho fidedigno: “O que eu sei é que a hiena joga o pião, sem mão. Nada no rio, quando está frio. Dança com o vento, ao relento. Trepa à árvore-do-viajante, num instante. Balança-se nos galhos, pendurada pela cauda… E que faz tudo isto, com um sorriso nunca visto…”
I … i
Instantes, inconformados, correm apressados, pedindo audiência a rei Tempo. “Estamos cansados”, dizem, “de ser tão curtos, breves, efémeros. Queremos ser longos, duradoiros, eternos.”
Rei Tempo, chocado com a informação, levanta-se do cadeirão. Dá gritos para o ar, anda pelo salão, sem parar… “Mas que decisão hei de tomar”, pergunta-se aflito, “sem a Lei do reino ultrajar?”
“Majestade, se sois rei, tudo podeis mudar!”, argumenta um Instante. “E a Lei é fácil de alterar.”
“A Lei existe desde sempre”, explica-lhes então. “É tão antiga como este cadeirão em que me sento. Se eu a alterar, tudo no reino irá mudar. E depois, onde procurar alento num reino de pernas para o ar?”
Há decisões, mesmo difíceis de tomar…
Rei Tempo está todo transpirado, sente comichões por todo o lado… Coça a nuca, cai-lhe a peruca… Levanta-a do chão, com o rosto todo ruborescido, por ela lhe ter caído. E… zás! Vira-se para trás, para repreender os Instantes, pela forma inesperada como eles o tinham surpreendido. Mas, de uma assentada, já os Instantestinham desaparecido, em menos de nada…
J … j
Janela, virada a Poente, tinha pouco que observar. Passava os dias enfastiada, a bocejar…
Poisou nela uma andorinha. Perguntou-lhe donde vinha.
“Venho de um país distante, onde fui imigrante”, respondeu-lhe a pequena ave, num tom de voz suave. E contou-lhe as suas aventuras nesse país sem amarguras: “Lá, construí o meu ninho, com muito carinho, num baobá, que estava apaixonado por uma aliá, com quem namorava nas noites de luar, a suspirar…”
E a janela, virada a Poente, escutava, e sorria de contente…
K … k
Kizua é um kaluanda de palmo e meio. Sonha ir à Lua e lê a tempo inteiro.
NOTA: Kaluanda é quem é natural ou habitante da cidade de Luanda, capital de Angola, país fenomenal da África Central.
L … l
“Lé com lé, cré com cré, cada qual com seu igual” – cacarejam as galinhas, apinhadas no comedouro, enquanto picam uma espiga da cor do ouro.
M … m
Mimosa, coelhinha maviosa, é branquinha como a neve. E é quase tão leve como o balão, em forma de coração, que lhe foi oferecido por um amigo muito querido: o João.
N … n
Nave espacial, sem tripulação, fez uma aterragem fenomenal, em Portugal, sem autorização!
E agora, que sanção se deve aplicar a esta nave intrusa, que se recusa a ir embora e só quer brincar?
O … o
Ós maiúsculos, muito atrevidos e brincalhões, jogaram no Euromilhões e ganharam milhares de milhões de botões, redondos e doirados, e alguns prateados…
“E agora, que fazer com tanto botão?”, pergunta, preocupado, o chefe de Estado à população.
Mas o povo alfabético não tem solução para este caso inédito, para o qual não existe legislação.
P … p
País distante, onde cada habitante usa como bengala um ponto de interrogação. E porque não?…
Cumprimentam-se todos da mesma forma, segundo a norma:
– How do you do? – pergunta o Clement.
– How do you do? – responde, igualmente, qualquer outro habitante desse país distante.
E agora, diz-me tu: “Não é uma sensaboria, viver assim, desprovido de alegria?”
Q … q
Querelas atribuladas provocam ensarilhadas no Terreiro do Paço, espaço de invenção e criação. O que estará em questão?
R … r
Ratinho malandro vive na casa do Bruxo Leandro. Escondido, está visto, para não ser apanhado e cozinhado no caldeirão, como aconteceu a João Ratão.
S … s
Sigmundo, esquilo oriundo de uma floresta tropical do Panamá, resolveu emigrar para Portugal continental. E tu estás, desde já, convidado para o seu segundo aniversário, que ele vem celebrar neste país extraordinário.
T … t
Trepadeira, plantada no céu, cresce, divertida, na direção da terra, em posição invertida.
Pergunta-lhe um lagarto: “Como podes viver feliz, com as raízes para o ar e o caule a abanar, à passagem da mais pequena aragem?”
“Tu agarras-te ao muro, para te sentires seguro”, esclarece a trepadeira, “mas eu, aqui no alto, não conheço o sobressalto. A minha vida é uma aventura permanente, e o meu caule já nem o vento sente.”
O lagarto, a quem o esclarecimento satisfaz, salta o mais alto que é capaz, para a trepadeira alcançar e, dessa maneira, ficar a saber como é viver de pernas para o ar.
U … u
Uivo de lobo faz a floresta acordar da sesta, que dormia descansada e despreocupada…
“Porque teria uivado?”, pergunta-se, maldisposta, por aquele som agudo e prolongado a ter acordado.
V … v
Varinha de condão faz e desfaz encantos, com toda a precisão… ou será que não?!
W … w
Wanda é uma princesa imaginária e extraordinária. Vive na imaginação de todas as meninas que idealizam ser o que não são.
X … x
Xamã, prodigioso e todo-poderoso, acalma e cura qualquer mal, trata todos por igual. Defende os membros da sua comunidade, previne estados de calamidade. De noite ou de dia, no País da Fantasia, é ele quem domina a magia.
Y … y
Yang procura Yin, com a máxima urgência!
Trata-se de uma emergência: por excesso de atividade, calor e luminosidade, não prego olho a noite inteira e fui expulso da capoeira!
Z … z
Zumbis, ambulantes, vagueiam por terras distantes. Que indesejáveis imigrantes!
Imagina tu que até roubaram um peru de uma capoeira, para depois o assarem numa fogueira.
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