AVENTURAS NA NUBILANDIA (1)


Joel é um menino de seis anos que não se conforma com a ideia de ter de começar a escolaridade obrigatória. Para evitá-la, engendra um plano que tenciona pôr em prática com a ajuda de Vera, uma companheira de brincadeira. Um encontro inesperado com uma Núbia, porém, vem alterar radicalmente o plano engendrado, e Joel e Vera viajam para a Nubilândia, onde irão viver as mais fantásticas aventuras…. Será que regressarão ao Planeta Terra?


Joel e Vera viajam para a Nubilândia


Numa tarde de início de outono, fria e chuvosa, em que não podia brincar no quintal de sua casa com os vizinhos, o Carlitos e o Mané, o Joel pediu à mãe que o deixasse ir brincar com a Vera, que vivia do outro lado da rua num enorme casarão, com um sótão cheio de brinquedos. Vera convidava-o muitas vezes, mas ele recusava quase sempre. Era muito mais divertido brincar com rapazes, argumentava. Naquele dia, porém, foi todo contente. Porque seria?…

– Bom dia, Joel! A Vera já está lá em cima à tua espera diz-lhe D. Estefânia, enquanto o deixa entrar.

Joel retribui amavelmente o cumprimento e sobe as escadas que dão para o sótão.

Está muito simpático, hoje!…”, pensa com os seus botões, desconfiada, a mãe da Vera. 

De facto, Joel era, por vezes, antipático, principalmente com D. Estefânia, que ele detestava, por ela estar sempre a corrigi-lo:

– Não é incoligível que se diz, é: in-co-rri-gí-vel – acentuava a senhora-sabe-tudo, como se fosse uma professora…

Eu sei… Incoligível! – repetia o Joel, propositadamente, só para a enervar. 

À terceira tentativa de correção, D. Estefânia perdia quase sempre a paciência e desistia de o emendar… pelo menos, naquele dia.

Joel só tinha seis anos de idade. E, com seis anos, ainda se pode trocar as letras das palavras… sobretudo, quando se fala depressa.

– É um trapalhão a falar – queixava-se o pai. 

– Ainda é pequenino. Quando for para a escola, já aprende a falar direito – defendia-o a mãe.

Joel não gostava nada da ideia: “Ir para a escola?! Nem pensar! Teria lá eu paciência para aturar todos os dias outra D. Estefânia!…”, concluía ele, contrariado.

Mas as aulas começavam na semana seguinte, e os pais já o tinham matriculado na primeira classe.

Nada disso! Era preciso evitar que tal acontecesse. E, ao que parece, tinha chegado o dia em que Joel ia conseguir mudar o rumo dos acontecimentos. Como? Já vais ver…

– Olá, Joel! Já preparei a casa das bonecas – diz-lhe a Vera, ao vê-lo chegar ao sótão.

– Mas quem é que quer brincar com bonecas?! – replica o Joel, maldisposto. “As raparigas são mesmo umas pataratas…”, pensa consigo mesmo.

– Então a que é que vamos brincar?… – pergunta-lhe a amiga, um tanto desiludida.

– Não te preocupes. Eu já sei o que vamos fazer…

– Está bem – responde a Vera, que é um ano mais nova que o Joel e, por isso, faz sempre o que ele quer.

– Olha lá, não havia aqui uma escada?! Onde está?

– Está ali guardada na arrecadação – diz a Vera e aponta para uma porta que dava para um pequeno compartimento, situado num canto do sótão.

– Vamos buscá-la!

– Para quê?…

– Já vais ver – responde-lhe o Joel, sem dar mais justificações.

Transportaram a escada até meio do sótão e pousaram-na no chão.

– Ajuda-me a pô-la de pé – pede o Joel à amiga. – Precisamos dela para chegarmos ao telhado – explica-lhe ele, apontando para uma janela no teto do sótão, que ficava mesmo por cima das suas cabeças.

Vera ajudou-o, e subiram a escada, um de cada vez: primeiro o Joel, e depois ela.

Agora, estavam em cima do telhado.

Tinha parado de chover, mas as telhas ainda estavam molhadas, e eles tiveram de ter muito cuidado para não escorregarem.

– Anda comigo! – ordena o Joel à amiga. – Temos de chegar ao telhado da escola.

Ao telhado da escola?! – grita a menina aflita. – Como é que queres chegar daqui até à escola? É muito longe!

– Não é nada – afirma o Joel, todo sabichão. – Fica no fim da tua rua. Se passarmos de um telhado para o outro, chegamos à escola num instante.

– E porque não vamos pela rua?

– És tola?! Assim o plano já não resultava.

– Que plano?!

– O meu plano, palerma! Vamos fazer com que a escola não possa abrir na próxima semana quando começarem as aulas.

Na verdade, Joel tinha engendrado um plano para boicotar o começo das aulas: ele ia tirar as telhas do telhado da escola, uma por uma, e lançá-las à rua, de maneira que elas ficassem a tapar a porta de entrada. Assim, a escola ficaria toda inundada com a água da chuva, e os bombeiros não poderiam entrar.

“A escola vai ficar completamente arruinada!”, pensava ele com alegria.

Era um plano muito mauzinho, não te parece? E quem sabe se até não teria funcionado?… Mas quis o destino que, passado algum tempo, Vera se sentisse demasiado cansada para continuar a andar, e o Joel fosse obrigado a sentar-se com ela na beira de um dos telhados. E foi então que ouviram uma voz muito fininha exclamar:  

– Com que então, tencionavas fazer mais uma traquinice?!

Joel virou-se, repentinamente, e que viu? Uma figura pequenina de menina, com duas tranças azuis muitíssimo compridas, estava sentada na chaminé desse telhado.

– Que figura ridícula és tu?! – pergunta-lhe ele, espantado com o aspeto dela.

– Cuidado com a falta de respeito! Não penses que por eu ser pequenina sou mais nova do que tu. Eu já tenho umas centenas de anos!

Centenas de anos?! Quem é que acredita? Estás a gozar connosco… – responde-lhe o Joel, desconfiado.  

Mas a Vera, que sempre desejara ter uma boneca que falasse e brincasse com ela como uma menina a sério, gostou logo dela e resolveu defendê-la:

– Não está nada a gozar! Eu acredito nela. Como te chamas? – perguntou-lhe, curiosa.

– Chamo-me Menina-nuvem-de-fumo e sou uma núbia. Venho da Nubilândia à Terra, todos os dias, para controlar o fumo que sai das chaminés…

– Que disparate! Como se o fumo que sai das chaminés precisasse de ser contolado… – argumenta o Joel, feito espertalhão.

– Ora deixa-me adivinhar… – responde-lhe a núbia. – Tu és o espertinho desta região, certo? E nem sabes falar direito. Vejam só que esperteza ele me saiu. 

– Também és professora, é?!! – pergunta-lhe o Joel, furioso.

– Não, não sou professora. Mesmo assim, vais precisar da minha ajuda, se quiseres resolver o teu problema de forma mais eficiente. O teu plano não te vai livrar de teres de ir para a escola, mais cedo ou mais tarde…

Joel ficou silencioso. “Será que posso confiar nela?”, ponderava. A Vera, porém, entusiasmada com a ideia de poderem ficar amigas, pergunta-lhe logo de seguida:

– E como se pode resolver o problema?

– A solução encontra-se do outro lado do arco-íris – esclarece a Menina-nuvem-de-fumo, apontando para um arco-íris que, entretanto, se tinha formado no céu (devido ao Sol ter surgido de novo no firmamento quando ainda havia muita humidade no ar, depois de ter chovido intensamente).

– E tu podes levar-me até lá?! – indaga o Joel, ainda um tanto desconfiado da boa vontade da núbia.

– Como se chega ao outro lado do arco-íris, isso eu também não sei. Mas, na Nubilândia, existe uma floresta na Região-das-nuvens-negras onde os núbios não entram. Chama-se a Floresta-das-sombras, e, diz-se, quem nela entra pode descobrir esse segredo.

– E porque é que os núbios não entram lá? – pergunta a Vera, curiosa.

– Porque é zona proibida.

– Se é zona proibida, como é que eu posso entrar lá? – alega o Joel, que já começava a desconfiar da eficiência do plano da núbia.

– Vais ter de ir primeiro ao castelo da Fada-das-sombras, para ela te dar autorização.

Ao castelo da Fada-das-sombras?! E sabes onde fica?

– Fica na Montanha-das-nuvens-encantadas. É nessa montanha que vivem todas as fadas. Cada uma no seu castelo, está claro.

– E tu podes levar-nos a esse castelo? – pergunta a Vera, que já estava toda entusiasmada com a ideia de poder falar com uma fada verdadeira. Pois, como talvez possas imaginar, até então, ela só tinha conhecido as dos livros, e essas eram fadas inventadas.

– Com certeza que sim! – responde prontamente a núbia. – Se amarrarem bem uma das minhas tranças à vossa cintura, podemos partir…

Bem atados às tranças azuis, Joel e Vera voaram, então, com a Menina-nuvem-de-fumo, até uma região da atmosfera onde só havia nuvens. Muitas nuvens, todas juntas e muito espessas…


D. Momo King

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