HISTÓRIA DO PEZINHO DE COUVE E DA GOTA DE ORVALHO


Lá muito longe, num País Cor-de-rosa, havia uma horta verde. Nessa horta viviam muitos vegetais, todos eles verdes também. Eram couves, pencas, alfaces, agriões, espinafres e nabiças. E, no meio deles, existia um pequenino pezinho de couve muito rechonchudinho.

Um certo dia, ao entardecer, chegou até ele uma gota de orvalho. E, pousando suavemente numa das suas folhas, disse-lhe em tom amigável:


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– Olá, pezinho de couve. Mas que bonito que tu és!

– Quem és tu? – perguntou muito admirado o pezinho de couve.

– Eu sou uma gota de orvalho.

– Uma gota de orvalho?! Mas donde é que tu vens? Porque pousaste em mim?…

– Então tu não sabes o que é uma gota de orvalho, nem donde vem?

– Não, não sei!

– Pois escuta com muita atenção, porque eu vou contar-te a minha história…


«Há muito, muito tempo, este País Cor-de-rosa era todo vermelho. Era vermelho e muito quente. Tão quente que os vegetais como tu nem existiam. O céu não tinha nuvens. E a terra nunca era molhada pelas águas da chuva. Por isso, o País Vermelho era estéril: nele nada se produzia e crescia, como acontece agora aqui na tua horta. Era um país triste e sem vida…


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Mas acontece que, nessa mesma altura, existia lá muito distante, no Norte, um outro país com muitas nuvens, muito grandes, muito velhas, muito carregadas e cinzentas. Era chamado o País Cinzento. E era muito escuro, muito frio e muito triste.

Um certo dia, os habitantes do País Cinzento, cansados da vida triste que levavam, resolveram reunir-se na praça principal da capital, para pôr termo a tal situação. E o Dedinho, o orador mais importante da região, subiu até ao ponto mais alto da praça, e começou o seu discurso:

– Companheiros ilustres desta cidade! Amigos e mais cidadãos! – e, depois de erguer muito alto o pescoço para enfrentar sem medo a população e esticar o seu dedo indicador, que era muito comprido em relação ao seu corpo de anão, continuou:

– Como todos sabeis, há já muito tempo que o País Cinzento não recebe um único viajante estrangeiro. E porquê? Por ser tão frio e tão triste o nosso país! Amigos, temos de fazer com que o Sol volte a brilhar! Temos de transformar o nosso país num país quente e alegre!

Todos concordaram.

– Temos de encontrar uma solução para o nosso problema!

– Apoiado! – gritou novamente a multidão.

– Mas que havemos nós de fazer? Que medidas havemos de tomar?…

Silêncio total. Ninguém tinha uma ideia…  


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Foi então que Dedinho se lembrou do velho sábio Gedeão.

Gedeão vivia sozinho numa cabana, no alto de uma montanha, e tinha sido, havia muitos anos, um bom governador do país.

– É isso! – exclamou depois em voz alta. –  O antigo governador Gedeão é o único que nos pode ajudar. Ele é o mais velho e o mais sábio de todos nós. Temos de o visitar e pedir-lhe conselho!

 – Ótima ideia! – responderam todos a uma só voz.

Subiram, então, Dedinho e alguns amigos, à montanha que ficava fora da cidade.


E lá no cimo, no meio de árvores muito grandes e velhas, avistaram uma cabana construída em toros de madeira e toda coberta com um telhado de palha. Era lá que vivia o velho sábio Gedeão.

Chegaram perto da cabana, e como esta tinha a porta entreaberta, entraram sem bater.

Lá dentro, um homem velho, de cabelos todos brancos e barbas compridas até aos pés, estava sentado num pequeno banco. No seu colo tinha um grande livro muito, muito antigo. Ao seu lado, numa mesa feita de um tronco de árvore, estava uma lanterna a petróleo.


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O ambiente era todo um pouco escuro e misterioso. Por isso, Dedi­nho e seus amigos ficaram com um certo receio de dizer alguma coi­sa…

O velho, levantando os olhos do livro, fixou os seus visitantes, e interrogou-os admirado:

– Que vos traz por cá?! …

Dedinho disse-lhe então:

– Gedeão, vimos pedir-te ajuda. Temos de salvar o nosso país da miséria!

– Da miséria?! …

– Sim, é triste a nossa situação…

E Dedinho contou a Gedeão a situação em que o País Cinzento se encontrava.

– Tens razão! – disse Gedeão, por fim. – A situação está muito má para o nosso país. Eu só vejo uma solução possível…

Os visitantes abriram muito os olhos de curiosidade e surpresa; e ficaram muito calados, à espera de ouvir a solução.

Gedeão continuou, depois de ter feito uma pequena pausa para pensar:

– Lá muito longe, no Sul, existe um País Vermelho, muito quente e com muita luz do Sol. Temos de lhe enviar mensageiros. Pois só de lá nos poderá vir a ajuda de que precisamos.

– Mas que bela ideia! Vamos partir já de viagem.

– Atenção, Dedinho! Esse País Vermelho é tão quente que vós não podíeis chegar lá vivos.

– É verdade! Não me lembrava disso.

– Os vossos mensageiros só podem ser as nuvens – continuou Gedeão. – Elas possuem tanta água concentrada nelas que não lhes fará mal algum visitar um país tão quente e seco.


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Dedinho e os seus amigos desceram então à cidade todos conten­tes e felizes pela ajuda que tinham recebido. E, nessa mesma tarde, os habitantes do País Cinzento voltaram a reunir-se na praça prin­cipal da capital e fizeram uma grande festa de despedida às nuvens. Fizeram um bolo muito, muito grande; e abriram muitas garrafas de champanhe. Depois, tocaram músicas muito bonitas, cantaram canções e dançaram de alegria.

Quando a festa terminou, disseram adeus às velhas amigas nuvens, tristes por se separarem delas, mas felizes por terem a esperança de que elas lhes trouxessem, de novo, o Sol e o calor.

E as nuvens velhas partiram lentamente para o Sul…


A viagem foi longa e muito demorada. Só ao fim de muito tempo as nuvens enxergaram ao longe o País Vermelho.

Foi então que se deu um fenómeno maravilhoso…

Quando se iam aproximando do seu destino, as nuvens velhas, carregadas e cinzentas, iam-se tornando jovens, leves e brancas. E viajavam cada vez mais rápido e ligeiras. E, assim, começou que cada uma delas queria ser a primeira a che­gar, como mensageira do País Cinzento do Norte. E zangaram-se entre si. Ficaram tão furiosas que começaram a lutar umas contra as outras. E, de se chocarem com toda a sua força, nasceu uma valente trovoada com muitos raios luminosos e estrondosos ruídos.

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– PAM! PAM! PAM! PAM! …

Era uma verdadeira batalha de nuvens!

O céu do País Vermelho estava então a dormir, coberto por um gran­de manto negro. Pois no país vermelho, àquela hora, era noite.

Mas as nuvens fizeram tanto barulho, e barafustaram tanto, que o céu acordou. E acordou muito irado. Porque o céu gostava de dormir toda a noite sem que ninguém o interrompesse…

– Malditas nuvens! – bradou ele. – Quem vos autorizou a acordar-me com semelhante chinfrim? Então vocês não sabem que eu sou o rei­ da atmosfera? Tudo o que o ar contém me pertence e obedece!

Mas as nuvens estavam tão atentas à sua luta, que não deram ouvidos ao céu. E foi um erro terrível, pois este ficou cada vez mais zangado, e resolveu castigá-las:

 – Para castigo vosso, por falta de obediência ao vosso rei, eu vos transformo em água de chuva!

E as nuvens se desfizeram, quase repentinamente, em enormes quantidades de chuva torrencial que começou a cair com toda a força nas terras secas e estéreis do País Vermelho…


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Com tanta água a cair do céu, o calor e o fogo, que reinavam na­quele país, sentiram-se derrotados, e partiram à procura de um ou­tro país em que pudessem reinar…

Foi assim que chegaram ao País Cinzento do Norte, com as tropas sobreviventes, onde foram muito bem-vindos.

O País Cinzento, sem nuvens e com o calor que viera do Sul, ficou novamente um país alegre e bonito. Agora chama-se o País Dourado. Porque no seu céu, hoje, reina um belo Sol a brilhar.


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No País Vermelho, a terra, regada pelas águas da chuva, tornou­-se fértil. E muitas plantas cresceram. Muitos rios nasceram. E muita humidade ficou no ar da manhã e do entardecer…

Foi dessa humidade que eu nasci – uma simples gota de orvalho – que, juntamente com tantas outras, faz com que o ar se torne fresco e agradável, ajudando a transformar o País Vermelho num País Cor-de-rosa.

No país do Norte, ainda não sabem o que aconteceu às nuvens suas mensageiras. Alguns habitantes ainda têm a esperança de voltar a vê-las, para lhes agradecerem por elas tão bem terem cumprido a sua missão…»


Ora aqui tens! É esta a minha história. Agora já sabes quem sou e donde vim.

 – É bem bonita a tua história, gotinha de orvalho, que também é a minha, afinal. Porque, se tu não existisses, eu também não existiria.

– Assim é, realmente. Por isso, lindo pezinho de couve, sempre que pela manhã, ou ao entardecer, sentires uma gota de orvalho pousar numa das tuas folhas, não te esqueças de a cumprimentar:

– Olá, amiga!


D. Momo King

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